terça-feira, 7 de julho de 2009

Uma missão de salvamento improvável no Vietnam

Ora bem, queria só contar-vos talvez o episódio mais divertido que me aconteceu até ao momento. Lembram-se de eu ter dito que apanhei uma boleia de motociclo até Cho Lon, com a Hao? Pois bem, embora os encontros imediatos com o tráfego envolvente sejam uma constante, desde pessoas que nos aparecem à frente, a tentar atravessar a rua, até ao carro que nos apita mesmo ao lado, para avisar que está ali, passando pelas outras motas que, em sentido contrário, passam pelo meio de nós - nós, os que vamos num fluxo contínuo que segue num determinado sentido, entenda-se –, culminando em apoteose nos cruzamentos onde esses fluxos se cruzam em mais direcções do que as vias existentes nesses mesmos cruzamentos, e onde, de modo aparentemente desordenado, mas sempre fluído, os veículos se cruzam uns com os outros, à frente, atrás, de lado, mas nunca – que eu visse – uns por cima dos outros. E então se forem rotundas, então aí é que é ver o sistema a funcionar na sua máxima eficácia. Mas dizia eu que, embora os encontros imediatos sejam uma constante, com a minha boleia, os momentos mais delicados eram os arranques nos raros semáforos que eram respeitados (e por acaso, ela era das mais respeitadoras). E às tantas, logo a seguir a um desses arranques, ouço-a dizer Oh my God!, e começa a virar para a esquerda, a meio do cruzamento. Não sei se estão bem a ver. Não, não estão de certeza absoluta! É que todas as ruas, deixa lá ver, ... eram cinco, salvo erro, todas as ruas estavam a debitar tráfego em todos os sentidos. E quando ela começa a virar para a esquerda, claro que de frente – e do lado direito também – só via uma mole compacta de motociclos à mistura com alguns carros – sobretudo táxis, diga-se de passagem – e... um camião, este último em perfeita rota de colisão connosco. E ela a utilizar o método do Vou-me metendo à frente dos outros, até conseguir furar (método essencial a dominar, para quem quiser conseguir chegar a algum lado em Saigão. E funciona, a sério).

Enquanto eu tentava perceber o que se passava, imaginando que se devia ter enganado no caminho, lá conseguimos chegar em segurança junto ao passeio da esquerda. Quando lhe pergunto o que se passava, percebi que... tinha perdido uma chinela – a esquerda, para ser mais exacto – no meio do cruzamento. E olha para trás. E quando digo no meio do cruzamento, é porque, quando viro a cabeça para olhar para o sítio onde ela tinha os olhos fixos, lá vi a chinela perdida, mesmo quase no meio do cruzamento... Claro que quem me conhece, sabe que perante uma donzela em perigo (a chinela, claro!), não consigo deixar de fazer alguma coisa. De modo que lá fui eu, com a minha aparente calma – por acaso, e só mesmo por acaso, deste vez até não era só aparente, não sei porquê, mas estava mesmo impávido e sereno perante tão dantesca tarefa. E, sempre de olho na coitada da chinela, a pensar quando seria passada a ferro, vou tentando avançar pelo meio do trânsito, à medida que vou vendo as motas a passarem-lhe ao lado, o carro que não a pisou por uns centímetros, a carrinha que lhe passou por cima sem a atropelar. E enquanto avanço, vou pensando, sobretudo, em como resolver o momento critico da situação: baixar-me para apanhar a pobre e indefesa chinela, ali sozinha e tolhida de medo, no meio do cruzamento, sem perder o contacto visual com o tráfego envolvente. O que me valeu foi uma breve aberta, em que só havia aí umas 50 motorizadas na estrada, sem carros nem carrinhas nem outras criaturas metálicas de maior tamanho, e lá consegui a tarefa impossível de a salvar. A viagem de regresso decorreu sem maiores incidentes. A viagem de regresso para junto da Hao, claro, porque não sei se se lembram, mas eu estava no meio de um cruzamento, entre dezenas e dezenas de viaturas, com uma chinela na mão, ok? Foi um episódio surreal. Quer dizer. Foi bem real. Mas surreal para a nossa tão pobremente real realidade certinha em que vivemos...

O trânsito, 4ª (e última) parte

Pronto, já estou no hotel em Hoi An, uma pequena vila junto ao mar, a uns 20 km de Da Nang.

Bom, voltando ao assunto inicial, e para acabar de vez com isto, estas regras resumem o essencial a ser cumprido. Ah!, ainda há mais uma. Não será bem uma regra, mas um modus operandi. Quando queremos virar para qualquer lado, vamo-nos chegando com cuidado para o meio da via, ou mesmo para a faixa contrária, furando com calma o caudal continuo de motociclos e carros que vêm em sentido contrário, enquanto os que vêm de frente buzinam para sabermos que eles nos estão a ver, tomando eles a decisão de nos passar à frente, ou já por trás, em função da sua – e da nossa – experiência. É do tipo atravessar uma torrente caudalosa de um rio. O rio não vai parar por nós o querermos atravessar, certo?...

Depois disto, tudo é permitido. Andar em contramão, especialmente quando a avenida para onde vamos virar tem separador central em betão e eu quero enfiar pela primeira rua à esquerda. Fazer inversão de marcha no meio de uma rua com separador central e duas linhas contínuas no chão, mesmo antes de chegar a uma rotunda, onde podíamos dar a volta e tomar o mesmo caminho. Andar por cima do passeio com o motociclo, quando a via está muito congestionada, mesmo quando o passeio tem peões e outros motociclos estacionados. Ultrapassar qualquer obstáculo, pela direita ou pela esquerda, mesmo que para isso se vá em contramão.

E se acham isto interessante, então experimentem apanhar um Mototaxi. Ou então, talvez tenham a sorte de ter no grupo uma vietnamita a quem pedir boleia, para tirar umas fotografias. Foi uma experiência única! Quer dizer, única não, porque depois ainda andei outra vez, mas dessa feita de Mototaxi, e de noite. E apesar de perceber que a Hao não conduz lá muito bem (na prática, acho que ela tem é medo do trânsito, o que, dadas as circunstâncias, até, enfim, talvez, com alguma boa vontade, se possa compreender...), apesar disso, foi uma viagem muito divertida, até Cho Lon, o maior bairro chinês do Vietnam.

Os serviços de algumas embaixadas, entre as quais a francesa, desaconselham vivamente o aluguer de motociclos em Saigão, devido ao elevado risco de acidentes. De acordo com os dados das embaixadas, os acidentes com estrangeiros são algo frequentes, o que faz que as seguradoras se recusem a fazer um seguro a qualquer temerário que pense alugar uma viatura de duas rodas. Mas, depois de 4 dias no meio daquele trânsito todo, sem ter visto um único acidente, a mim ninguém me tira da cabeça que o maior perigo para qualquer turista que queira andar de duas rodas nesta cidade é... o próprio turista. A sério. Palavra. Porque se andares com o cuidado com que eles andam, quando há bastante trânsito, onde raramente chegam a andar a mais de 30 à hora, se seguires aquelas regras que eu já referi antes, e sobretudo!, se te esqueceres de todas as regras – bom, quase todas, ok... – se te esqueceres de quase todas as regras que conheces sobre condução, então terás uma experiência única e perfeitamente saudável, sem maior risco do que outras experiências de condução nas nossas estradas!

O trânsito, 3ª parte

Em voo de Ho Chi Min para Da Nang, ao som de The Best of You, dos Foo Fighters, Não sei bem porquê, mas acho esta música extraordinária. Talvez porque eles são mesmo bons. Vejam por exemplo o The Pretender, no YouTube, ou oiçam a Razor. Bom, mas chega de banda sonora. De qualquer modo sabe bem mudar de vez em quando. Deixar de ouvir as apitadelas constantes do trânsito. E isto leva-nos – esperem, tenho de ouvir esta música outra vez, só um segundo... Ok. Onde ia eu?... ah, estava a dizer que isto nos leva à conversa por terminar sobre o tráfego vietnamita. E então, para não demorar mais com isto, porque vocês já devem estar tão fartos quanto eu de não sair do mesmo sítio, vou tentar resumir ao máximo.

Para já há que explicar que Saigão é uma cidade com 7 milhões de habitantes – já tinha escrito isto, acho... – cheia de vida. É a maior cidade do pais. Hanói só é a capital por questões politicas, como facilmente se percebe. É uma cidade cheia de contrastes, podendo encontrar-se o mais novo no meio do mais antigo. E com o trânsito, passa-se o mesmo. Não conheço em Portugal – não quer dizer que não haja – mas não conheço em Portugal uma cidade cujos semáforos indiquem, em segundos, e de forma bem visível, o tempo que temos de esperar pela próxima mudança de luz. Mas ao mesmo tempo, essa ‘modernidade’ coabita com a forma tradicional de encarar as deslocações.

Torna-se assim interessante verificar que, dependendo dos cruzamentos, os semáforos podem ser mais ou menos respeitados. Ou mesmo não respeitados de todo. Até pelos veículos de maiores dimensões. Na realidade, este tema tão interessante – e para mim tão divertido! – até é capaz de já ter dado mais do que uma valente tese sobre sistemas de gestão de tráfego. Como não é essa a intenção, vou tentar sintetizar algumas regras/formas de funcionamento que tenho vindo a encontrar. Sem nenhuma ordem específica. Mas também para quê uma ordem na descrição de uma aparente desordem?

Primeiro, a faixa direita – quando a via tem duas faixas – ou a parte direita da faixa de rodagem, é para os veículos de duas rodas. Os veículos de 4 – ou mais – rodas andam sempre à esquerda. Mesmo quando querem virar para a direita...

Depois temos a regra da buzina. Eu buzino sempre para os tipos que estão hierarquicamente ao mesmo nível, ou abaixo de mim. Ou seja, um autocarro buzina para toda a gente – felizardos!, um carro ou carrinha, buzina para outros carros, mas sobretudo para os motociclos e velocípedes. Os motociclos por sua vez, buzinam entre eles (muito), e para os velocípedes. E os velocípedes... bom, esses não costumam ter buzina... Espera!, estava a esquecer-me dos peões que querem atravessar a estrada! Estes é que são mesmo os últimos na hierarquia.

Mas isto do apito não é como em Portugal, em que se buzina para dizermos ao gajo da frente Anda lá ò cromo! Que o semáforo já está verde há vários milionésimos de segundo! (no norte a linguagem não seria exactamente esta), ou para outro tipo de refilonices. Não senhor. A buzina é usada de um modo muito mais, como dizê-lo?... muito mais terapêutico? Tipo prevenção. É quase um ritual, um gesto adquirido, que funciona em modo quase automático. Basicamente pode ser para dizer Estás na minha faixa, Olha que eu vou aqui atrás de ti. Deixa-me passar, sff. Por aí fora, percebem? É um modo de utilização que só pode derivar do modo mais calmo em sem stress com que os asiáticos encaram a vida. Diria eu. Aliás, para ver essa forma diferente de estar na vida, posso falar de um concurso de uma cerveja. Um concurso como os de cá, normal. Como os de cá, tem como prémio principal um SUV todo moderno. Como os de cá, temos de ver a carica para verificar se temos prémio. Como os de cá – salvo erro... – todas as caricas têm alguma coisa escrita, mesmo que não tenha prémio. Já não muito bem como cá, é o facto de todas as caricas não premiadas terem frases... não sei bem como dizê-lo... frases inspiradoras? Do tipo Aproveite para desfrutar aquilo que tem, e coisas parecidas. Esta ‘diferença’ mostra também a maneira diferente de estar na vida, e de a apreciar.

Mas a propósito disto do Eu vou atrás de ti, há uma regra fundamental para as coisas funcionarem no meio deste aparente caos. É a regra do “Eu preocupo-me com o que vai à minha frente. Fazes favor, tu que vais atrás de mim, preocupa-te comigo. – Ok, vamos aterrar, tenho de desligar isto...

domingo, 5 de julho de 2009

O trânsito, 2ª parte

Bom, como está a chover lá fora (são agora 18h28, hora local), está tudo à volta da selecção de fotografias para comentar a seguir ao jantar. E não julguem que é fácil! Experimentem lá tirar umas 200 ou 400 fotografias num dia, e depois seleccionar 20. Mas 20 que correspondem a dois dias!... Tarefa bem ingrata. Bem mais difícil do que tirar as fotografias em si.

Mas como estava a dizer, enquanto passo as imagens para o disco, vou escrevendo. E então voltemos ao tráfego. E desculpem lá a mensagem anterior. Agora que a fui reler, quase me deu vontade de a apagar. Provavelmente, a esta hora, devem estar a pensar que a minha rede de neurónios está em sintonia com o caos - aparente - do trânsito local... Mas como já o escrevi, não me apetece apagá-lo. Por isso quem tiver paciência, que o leia. De qualquer modo este - ou por este andar o próximo relato - será o suficiente para terem uma noção do sistema de trânsito local.

E pronto, parece que vai mesmo ter de ser no próximo relato, tenho de voltar às fotos... Mas eu já regresso. Até já!

sábado, 4 de julho de 2009

No Vietnam

Partida a 1 de Julho, de Lisboa, chegada a 2 de Julho, a Ho Chi Minh, a antiga Saigão, nome pelo qual ainda hoje em dia é conhecida.

O regresso previsto será no dia 12, com chegada a Lisboa no dia 13. Acho que está a ficar demasiado próximo!

Já devia ter começado a escrever, mas para quem me conhece, isto também não é nenhuma novidade, não é verdade?

Depois de cá ter chegado no dia 2, 5º-feira, de repente apercebo-me que já é Domingo. Bom, são apenas duas da manhã, mas não deixa de ser Domingo! Por momentos tive mesmo de ir confirmar o calendário, para garantir que não era erro do computador...

Mas e que tal se fossemos ao que interessa? A verdade é que não sei bem por onde começar. Suponho que pelo princípio, o que até acaba por ir levar a um assunto que é particularmente interessante e curioso. Pelo menos para mim!

Ah! E um aviso!, antes de começar. Isto está a ser escrito às duas da matina ok?!?, e vai tudo de seguida! Porque já estou para escrever há dias. E porque já vos tinha dito que ia escrever hoje, ok? E a questão das fotos ainda vai ser outro berbicacho, porque ainda tenho de escolher algumas... Ai ai... Estou a ver a linda noitada que me espera... Por isso, perdoem lá qualquer coisita no texto, ok? Que eu hoje não consigo rever o texto. Acho.

Então e qual o tema de início, perguntam vocês, já fartos de tanta conversa fiada. E fazem muito bem. Se não apertam comigo, eu mesmo não vou conseguir escrever o que queria escrever, porque me perco em deambulações idiótico-o-que-vocês-quiserem-acrescentar-aqui-que-acabe-em-ês-por-exemplo...

Ok, já chega. Estou só com vontade de vos chatear um pouco mais. Antes de escrever a sério. Ok? Eu sei que sabem. Para bom entendedor meia palavra basta. E eu sei que vocês são bons entendedores. Vamos lá ao texto (para os que aguentaram até aqui! hehehe).

Pois o tema surgiu por acaso, inicialmente, e depois acabou por se infiltrar no nosso dia-a-dia. Trata-se, tcha-tcham!, do trânsito nas estradas vietnamitas.

E surgiu por acaso porque, quando estávamos em aproximação à pista de Ho Chi Minh, por volta das 14h15 horas locais (mais 7 horas do que em Lisboa, para o caso de poder ser útil sabê-lo), como dizia, quando estávamos em aproximação à pista, reparei em duas coisas: a primeira foi a organização espacial das áreas urbanas, e o colorido das fachadas; a segunda foi o número de aceleras na estrada. Do que vi de lá de cima, fiquei com a nítida impressão de que estas correspondiam a, pelo menos, uns 85 a 90% do tráfego nas estradas. Claro que uma presença tão forte de veículos de duas rodas não podia passar despercebida. Foi talvez mesmo a coisa que mais me chamou a atenção. E pronto. Esta foi a origem deste tema.

Antes de entrar na carrinha do hotel que me foi buscar ao aeroporto, e de mergulhar no trânsito local, podia falar-vos do episódio do primeiro câmbio que fiz, ainda no aeroporto. Mas esta história de como fiquei a ganhar dinheiro só porque no balcão de câmbios não tinham notas das pequenas fica para outra altura, ok? Por agora vamos cingir-nos ao tráfego (gostaram?, gostaram desta técnica de manter o interesse para os próximos episódios?).

Então entrámos na carrinha. Eu e os dois rapazes que me foram buscar, com um poster a dizer Luís (por acaso acho que era mesmo só Luís, sem o Pinto à frente). Ar-condicionado ligado. Claro. Porque com um mínimo de 32 graus que deviam estar lá fora, anda tudo com o ar-condicionado ligado. Pagámos o parque. Saímos do parque. E começam as aceleras a aparecer de todos os lados. Sabem aquelas pragas de baratas, em que parece que elas surgem de todos os lados, e vão em todas as direcções, por vezes até passando umas por cima das outras, em trânsito contínuo e ininterrupto? (acabei de ‘fazer’ um pleonasmo, não foi?... mas aqui faz mesmo sentido, porque reforça a noção daquilo que realmente acontece!). Pois era mais ou menos – mais mesmo para o mais – que ... bolas!, estas repetições dão cabo de mim... era mesmo isso que se podia ver. Excepto a parte de passarem de vez em quando umas por cima das outras, claro!!! Ou talvez não tão claro. Porque, num primeiro impacto, ficamos sem perceber como não se vêm ambulâncias em todos os cantos e esquinas. Mas eu já vos dou uma noção mais acertada do trânsito local.

É interessante verificar que, efectivamente, o tráfego é constituído, na sua grande maioria, por veículos de duas rodas. Sobretudo motorizados (para quem é bom entendedor, julgo que não tenho de explicar que são muito mais motorizadas do que bicicletas, certo?...). Pelo menos os tais 90% de veículos a circular na cidade de Ho Chi Minh são motorizadas, algumas bicicletas, alguns triciclos-táxis, triciclos-transportes e afins, afins esses que incluem alguns veículos que parecem ter apenas duas rodas, mas cuja forma se encontra parcial ou totalmente escondida pela carga transportada pelo seu dono ou condutor. Mas até aqui nada de novo, certo? Afinal, vocês são pessoas informadas, que já receberam seguramente, pelo menos uma vez na vida, daqueles magníficos ficheiros PowerPoint, com imagens de bicicletas e motorizadas, cobertas de gaiolas de galinhas, ou de porcos, ou outras matérias primas – ou secundárias, imagens essas tão tipicamente asiáticas. Mas há mais coisas para além do que a vista alcança.

Eu, que sou um gajo atento... ok, desculpem o exagero. Deixa lá reformular. Hummm... eu, que sou um tipo que de vez em quando até consegue, por acaso, e com alguma fortuna (hum... sabendo que fortuna também pode ser sorte, este é mais um pleonasmo... mas que também aqui reforça uma verdade, ok?), e como estava a dizer, eu que até consigo estar atento a algumas coisas, posso dizer-vos o seguinte: por trás do aparente caos e horror do trânsito vietnamita, está o sistema de auto-gestão, com ‘computação’ híbrida, partilhada por milhares de centros biodinâmicos de cálculo e avaliação de risco, mais perfeito que já conheci. Disse milhares, mas talvez possa mesmo dizer milhões. Porque, se só Ho Chi Minh tem 7 milhões de habitantes, e quase todos eles andam de motociclos, o sistema tem de ser dessa ordem de grandeza!

E como cheguei eu a essa conclusão? Por simples observação, claro! Porque embora a cada milésimo de segundo que passamos na estrada pareça que vamos levar alguém mais pequeno pela frente, ou que alguém maior do que nós nos vai levar à frente dele, caso este que é, pelo menos para mim, muito mais assustador e aterrador que o primeiro... ok, acabou o serviço de detecção de pleonasmos! Agora estão vocês encarregues disso. E já sabem para que é que servem, estamos NÓS devidamente entendidos? (repararam na subtil nota que alerta para mais um PN?).

Bom, mas dizia eu que, embora a morte nos esteja constantemente a bater à porta, para logo a seguir se esconder atrás de outro condutor que parece não conhecer a forma como o mundo dito civilizado conduz, embora isso aconteça, a verdade é que consegui chegar ao hotel são e salvo. Acho que só o cansaço e o torpor – talvez estupidor seja o termo mais adequado... – talvez só eles me tenham feito sofrer um pouco menos com esta tão grande diferença no modo de estar na estrada.

E entretanto já se passaram dois dias. Ou três. Façam vocês as contas, que a esta hora eu já nem quero saber (sim, por acaso até já são 03h36...). Mas o que importa é que estes dias que passaram, me permitiram ver que realmente, no meio do caos, há uma organização especial.
Claro que há episódios caricatos. Pelo menos enquanto não abandonamos a nossa forma tão ... ‘quadrada’? por vezes, de ver a vida e as coisas que giram à nossa volta! Mas há episódios que não deixam de ter a sua piada, mesmo quando decidimos aceitar as diferenças. E são essas diferenças que acabam por nos tornar a vida mais rica em experiências!

Mas o resto do relato fica para amanhã, que hoje já não dou mais... a sério.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Gente que nos acorda!

De vez em quando, temos a sorte de alguém que nos é próximo, mas com quem não temos o contacto que gostaríamos, nos brindar com algo especial, que nos surpreende sem ser verdadeiramente uma surpresa, que nos ajuda a manter uma certa dose de humildade, e que nos faz sentir, apesar de tudo, especiais, no sentido de nos sentirmos privilegiados, precisamente por termos essas pessoas na nossa vida.

É o caso da Joana e da Margarida (mais duas primas do rol de primas - e primos! - fantásticos que tenho) que me mostraram que devemos ser menos 'adultos', que é o mesmo que dizer que devemos manter a nossa criança à solta, deixá-la expressar-se. Ou mais adultos. Mas adultos diferentes. Adultos mais conscientes, mais plenos, sem medo de nos mostrarmos. Porque o que vejo mais é um ser-se adulto que funciona na prática como uma prisão de nós mesmos. Com medo de tudo, vamos fechando portas e janelas. Deixamos de acreditar. É bom acordar com a ajuda de tantas pessoas especiais!

Obrigado primas e primos!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A minha mini-micro-nano Epopeia (9)

Oitavo e último dia, 6 de Dezembro, Sábado
Pequeno-almoço cedo, e saída às 8h00. Auto-estrada em direcção a Tanger. Embora já o tivesse visto no dia de chegada, é interessante constatar a afinidade que os marroquinos têm com a auto-estrada. Muita gente a andar a pé nas bermas. Pessoal a atravessar as faixas. Alguns com ovelhas ao colo. Sim, ovelhas, leram bem. Um carro parado no separador central, virado em sentido contrário. E não era da polícia. Deixa lá ver mais... Ah! E a melhor de todas! As áreas de serviço são concessionadas como aqui. Mas a concessão é separada para cada lado. O que faz com que possam ter uma bomba da BP de um lado e outra da Afrique (?) no outro. Ou então... uma bomba que nunca foi acabada, com aspecto de estar ali há alguns anos, e apenas uma bomba do outro lado... e um claro caminho a atravessar o separador central, com carros a passarem para a área de serviço do outro lado. Bom, foi lindo! Mas a verdade é que não vi nunca nenhum acidente na estrada. Apenas o tal despiste! Alguma coisa deve funcionar. E não é só a presença da polícia na estrada com os radares.

Chegada a Tanger depois de uma viagem sem história. Consegui atravessar a cidade direitinho e encontrar o caminho até ao Porto. Trânsito como nunca tinha apanhado! Cheguei lá pelas 12 horas. Lá voltei à tragédia da alfândega. É triste começar e acabar uma viagem tão gira com uma coisa tão degradante como esta, mas pronto... Cinco Euros para o primeiro gajo que me preencheu os papéis. Queria mais, mas disse-lhe que não tinha, e guardei os dez euros que me restavam... para o gajo que me levou o passaporte e a guia do carro. Depois ele queria mais. Mas lá o convenci que não tinha mesmo mais nada. O que era verdade, que nem uma porcaria de uma água pude comprar no barco!!!! Depois passou a inspecção do pessoal das drogas. Essa foi a parte mas delicada... de repente fiquei nervoso. Epá, o carro esteve parado um dia inteiro no deserto, será que alguém lhe mexeu?... mas não acusou nada! Ufa!! Embarquei num dos ferries rápidos. E uma hora depois de entrar em Tanger, o barco estava no mar! Quando dei por mim, cheguei a Espanha às 2 e 30 da tarde... Bolas!, isto estava a correr mais rápido do que esperava. Eu contava chegar ao final do dia, dormir em Algeciras e arrancar no Domingo de manhã para Lisboa. Mas a essa hora, fiz as contas e decidi ir mesmo ficar a Lisboa!

Depois de atravessar Espanha sem dinheiro nenhum no bolso - achava eu que havia de encontrar multibancos nas áreas de serviço espanholas - lá entrei no Algarve. Como entretanto não consegui marcar um jantar que queria marcar para essa mesma noite, em Lisboa, acabei por decidir continuar viagem até Aveiro. Ainda tive de parar para descansar uma horita numa área de serviço e finalmente lá cheguei a casa, pela 1h30. O dia seguinte foi de ressaca, pela viagem de regresso. Mas estava contente por ter feito a viagem toda!